(Dultra et al., 2014)
O ameloblastoma foi descrito, pela primeira
vez em 1930 por Ivey e colaboradores.1,2 Trata-se
de um tumor odontogênico epitelial, benigno, localmente
invasivo e de crescimento lento.3 Dentre
os tumores odontogênicos que acometem os ossos
gnáticos, é o tumor de maior significado clínico,4
representando cerca de 1% de todos os tumores e
cistos odontogênicos.1
Os ameloblastomas acometem tanto a mandíbula
quanto a maxila, tendo maior prevalência
na primeira, principalmente nas áreas de corpo e
ramo mandibular.4 Não há predileção quanto ao
gênero e raça, apresentando maior incidência em
adultos jovens, com média de idade de 35 anos.
O desenvolvimento em crianças é raro.2 Podem
ser classificados como sólidos ou multicísticos,
unicísticos e periféricos,5,6 sendo o primeiro mais
agressivo.2 Normalmente, são assintomáticos, sendo
descobertos em exames radiográficos de rotina;
porém, podem transformar-se em lesões de grandes
proporções, provocando perfuração de corticais
ósseas, deslocamento e reabsorção dentária.6
Radiograficamente, a variante multicística
caracteriza-se por apresentar aspecto radiolúcido
multilocular com padrão de bolhas de sabão ou
favos de mel, bordas irregulares, podendo (ou não)
estar associada a um dente incluso.4,6,7 O tratamento,
dependendo do tipo histológico e localização da
lesão, pode variar desde enucleação, curetagem,
marsupialização, crioterapia, ou uma combinação as
técnicas de ressecção (marginal ou segmentar).1,4
Os ameloblastomas correspondem, aproximadamente,
a 1% de todos os cistos e tumores
odontogênicos, possuindo maior incidência
na mandíbula e na terceira ou quarta décadas
de vida.4,8,9,10 A predileção
por gênero é controversa, havendo discordâncias
estatísticas descritas na literatura. Ameloblastomas
são tumores benignos agressivos, podendo originarse
do órgão do esmalte, lâmina dentária, folículo
de cistos odontogênicos (principalmente dentígero)
ou, possivelmente, de células epiteliais da camada
basal da mucosa oral.9
De acordo com a nova classificação da Organização
Mundial da Saúde (OMS) de 2005, foi
reconhecida a existência de quatro variantes clínicopatológicas
distintas do ameloblastoma: multicístico
ou sólido convencional, unicístico, periférico e desmoplásico. Devido a diferenças clínicas e imagenológicas
entre os ameloblastomas constituídos
exclusivamente pelo padrão desmoplásico e lesões
sólidas constituídas pelos demais padrões histoló-
gicos, na mais recente classificação dos tumores
odontogênicos da OMS, o padrão desmoplásico foi
excluído do espectro histopatológico do ameloblastoma
sólido e enquadrado como uma variante distinta,
designada ameloblastoma desmoplásico. De
acordo com a OMS, ameloblastomas que exibem
concomitantemente áreas de ameloblastoma sólido
e ameloblastoma desmoplásico são designados de
lesões híbridas. Porém, áreas focais de ameloblastoma
desmoplásico podem ser identificadas com
relativa frequência em ameloblastomas sólidos.3
A variante multicística é a mais comum,
compreendendo 86% dos ameloblastomas, com
maior tendência de agressividade e maior taxa de
recorrência. Quanto à localização, 80% dos ameloblastomas
são encontrados na região posterior
da mandíbula e estão frequentemente associados
com dentes inclusos. No presente artigo, a lesão
encontrava-se na região posterior de mandíbula;
porém, não havia associação com dente incluso,
o que nos levou a pensar em outra hipótese diagnóstica,
como cisto residual. Os 20% restantes
acometem com mais frequência a região da tuberosidade
maxilar.8,9 Os ameloblastomas unicísticos
acometem com maior frequência pacientes jovens
quando comparados com os outros tipos.10
Os ameloblastomas normalmente apresentam
padrão radiográfico de lesões multicísticas
radiolúcidas, com limites bem definidos de forma
semelhante a “favos de mel” ou “bolhas de sabão”.
Características que diferem do caso relatado, já que
se observa radiograficamente uma lesão radiolúcida
unilocular, tornando a suspeita diagnóstica de
ameloblastoma menos provável. Em menor número,
apresentam-se como lesões unicísticas radiolúcidas
uniloculares, que, em geral, circundam a coroa de
um dente incluso, podendo ser confundidos com cistos dentígeros.8,9,10 A reabsorção dentária é um
fator característico que diferencia o ameloblastoma
de lesões císticas simples.10 Apesar de mostrar ser
uma lesão radiolúcida unilocular, não havia dente
incluso associado ou reabsorção radicular de dentes
adjacentes no presente caso, o que torna a suspeita
diagnóstica de cisto residual ainda mais plausível.
Quanto ao comportamento clínico, trata-se de
um tumor de crescimento lento, normalmente assintomático,
podendo provocar deslocamento, mobilidade
e reabsorção dentária, assim como parestesia.
Possuem potencial de expansão de corticais e ou
erosão das mesmas com invasão de tecidos moles.10
Apesar do comportamento clínico já sedimentado
na literatura, no presente caso, não foi observado
deslocamento, mobilidade ou reabsorção dentária.
O paciente queixava-se de dores esporádicas na
região do dente 36, diferindo da característica assintomática
que normalmente se observa nos casos de
ameloblastoma. Além disso, o paciente não relatou
qualquer alteração nervosa no território inervado
pelo nervo alveolar inferior esquerdo.
O tratamento do ameloblastoma coloca o
cirurgião Bucomaxilofacial em um dilema quanto
à escolha da melhor opção cirúrgica. Acreditavase
anteriormente que, por se tratar de um tumor
benigno, a melhor forma de tratamento seria a
enucleação seguida de curetagem e posterior ressecção
de uma área menor do que a lesão inicial,
caso houvesse recidiva. Entretanto, apesar de ser
considerado um tumor benigno, o ameloblastoma
apresenta comportamento agressivo, podendo haver
recorrência local, transformação maligna e até
mesmo metástase à distância. A literatura mostra
que o melhor prognóstico para este tipo de lesão
está associado à escolha de um tratamento mais
radical, sendo a ressecção com ampla margem
de segurança a melhor forma de tratamento para
o ameloblastoma.5,10 Baseado nas características
clínicas e radiográficas, incomuns quando comparadas
às descritas pela literatura, o paciente foi tratado através da enucleção e curetagem, já que a
hipótese de lesão cística mostrava-se pertinente.
Se os exames radiográficos forem levados em consideração
para avaliar a taxa de crescimento e comportamento
biológico deste tumor, o tipo multilocular
apresenta pior prognóstico. Além disso, o tamanho,
a presença de bordas escleróticas e limites bem definidos
podem tornar o prognóstico mais satisfatório.8
A opção pela enucleação e curetagem, no caso
relatado, também levou em consideração o aspecto
radiológico, em que se pode notar lesão unilocular,
com bordas escleróticas e limites bem definidos.
Fonte: DULTRA, Vinícius Rio Verde Melo Munizi | Daniel Jorge da Silva Monteiro de Freitasi | Rafael Fernandes de Almeida Nerii | Joaquim de Almeida Dultraii| Fátima Karoline Araujo Alves. Características Clínicas, Radiográficas e Diagnóstico do Ameloblastoma: Relato de Caso. 2014. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2017.
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